quinta-feira, 8 de julho de 2010

o homem, a bengala.

Mais um sem pé nem cabeça, começo nem fim. Porém, esboço!

o homem e a bengala
ou
o homem, a bengala


Qualquer momento heideggeriano precisa de uma válvula de escape. O desejo latente de não ter o saber circunstancial corrói os mais duros corações que mal sabem o que o instante seguinte lhes reserva. Não adianta antecipar o que se deve saber. Ele é circunstancial. Não adianta notar-se como único ser, manifestação singular, que transita por aí, sem se notar nitidamente preso ao mundo. Sim, por isso é necessária uma válvula de escape. O sentimento oceânico que embalou as noites mal dormidas de Freud... a bengala temida por todos aqueles que não conseguem dela se livrar. A fé de muitos espíritos com um dos olhos vendados. A ciência de muitos senhores respeitados, que não sabem em que chão pisam. A arte libertacionária, livre dos preceitos morais e livre de qualquer julgamento racional. Diria Platão, salve as mousas que tomam a razão do artista e o deixam criar em estado de graça. Então, qual era a bengala, o sentimento oceânico, do singular Fausto? Aquele que não tinha a coragem expressiva do filho de Goethe para vender-se a um demônio que o quisesse, mas que tinha, pulsando em si mesmo, a vida de muitas vidas, a sabedoria de muitas sabedorias, a paixão de poucas gentes. O amor... o amor de sabe-se lá o que. Mas que, ora caminha ou não, transferia com segurança a outro alguém que o lançava, com indiscutível precisão, ao Vazio. Ficou sempre à mercê da roda da fortuna que, grandiosamente, desestabilizava os simples humanos. Mas, diante de si, ardia a frequência subliminar de não ser um simples humano. Haja vidas, haja vivências, haja tanta humanidade que o humanizou ao logo depois.