domingo, 10 de outubro de 2010

Nem tudo vira crônica

Se o diabo mora nos detalhes, Deus não perde tempo com o conteúdo. O que importa é a forma. Ela que define a maleabilidade do conteúdo. E nem todo conteúdo é suficiente para se enquadrar na forma. Seja lá que forma for! Não importa! Importa a suavidade denunciando uma dor esquecida num canto dos olhos. Importa o tom da voz variando um ar seco, quase sufocante, para esconder a valiosa arquitetura interna... a estima de si, como diria Ricoeur. Nem mesmo sentir a temperatura daquela pele em meio a escuridão da madrugada... momentos que não passam, mas ficam retidos na memória como boa lembrança de um dia "primordial" (Tótem Cavaquinho que me perdoe, mas eu usei seu termo. Perdoe-me!). O dia "primordial" que começa num bar de esquina e um pouco de vinho, coroando a noite, quase despercebida. Até o chegar da vigília numa manhã fria de domingo. Lembro de sempre deitar para dormir com medo de que o amanhecer nunca chegue. Mas este amanhecer, eu desejaria que nunca chegasse e rezava um santo de um panteão qualquer que perpetuasse aquela madrugada. Mas tudo finda.

Tudo finda! Por que "pantá rei"? Não faço ideia. É melhor que não faça. Como diria Drummond

"Eis se delineia
espantosa batalha
entre o ser inventado
e o mundo inventor.
Sou ficção rebelada
contra a mente universal
e tento construir-me
de novo a cada instante, a cada cólica,
na faina de traçar
meu início só meu
e distender um arco de vontade
para cobrir todo o depósito
de circunstantes coisas soberana."

Que se perpetue!